A FERIDA NAS ENTRANHAS
Florentino UlibarriFerida no mais íntimo,
impura, proscrita e marginalizada,
condenada a não ser ninguém,
levo uma carga tão pesada,
que me faz sangrar as entranhas
e me tira a vida e a alegria
em cada dia que passa.
Doze eternos anos perdidos,
com médicos, poupanças e esperança,
são muitos anos de peso
e de sentir-se olhada de lado,
condenada e abandonada.
A minha sorte é, por crença e história,
viver sempre prostrada.
Por não ter nem nome,
tenho só o da minha doença
não curada e tornada pública.
Estou tão só e desrespeitada
que decido transgredir o que é lei
e tabu para o meu povo e cultura,
e ir para a outra margem.
Aproximei-me de Ti e toquei-te;
mas só a orla do teu manto
chegou para o meu atrevimento e transgressão,
pois não queria nenhum mal para Ti;
o meu último recurso e esperança;
só ansiava ser curada
de tanta ferida nas minhas entranhas.
E o milagre realizou-se, Senhor.
Florentino Ulibarri
Traducción de Marcelino Paulo Ferreira